19/12/2021

Delírios, cinismo e pobreza

“Cem anos depois de Marx, sabemos da falácia do seu raciocínio; o tempo livre do animal laborans (animal trabalhador) nunca é gasto em nada a não ser no consumo e, quanto mais tempo ele adquire, mais gananciosos e vorazes se tornam seus apetites. ” – (“A Condição Humana” – Hannah Arendt).

Davaneio e fantasias são próprios dos seres humanos. Luis XIV, da França, o “Rei Sol”, teve uma inspiração divina: sonhou e tornou realidade “Versalhes”, erguendo-o a custa da miséria e sofrimento do povo francês. O STF brasileiro vive no paraíso dos deuses e sonha dominar o Brasil e os brasileiros através de leis inventadas por eles mesmos. 22% dos Municípios brasileiros erguidos pela força dos trabalhadores, sonham sair da miséria e quem sabe, um dia, aumentar seus parcos orçamentos.

Símbolo da Monarquia absoluta, “Versalhes” não desapareceu no tempo. Continua de pé e atrai milhares de pessoas, todos os anos, ávidas por observar a obra: possui 2 153 janelas, 67 escadas, 352 chaminés, 700 quartos, 1 250 lareiras e 700 hectares de parque. Nesse bastião dourado o "Rei Sol” organizava e controlava com mão de ferro o governo e o povo francês.

Platão, no Livro V de A República, afirma que “Estado Ideal” deve ter como governo homens superiores, um governo de sábios, éticos, administradores impolutos, guardiões da República, esteios da moralidade, livres das tentações do mundo, da corrupção, da maldade, das vaidades, da imoralidade, do cinismo.

Os 11 Ministros do STF afirmam serem os “Guardiões da República, da Constituição, das Leis”, mas contrariando Platão e imitando o luxo e a pompa de “Versalhes”, o STF possui “116 faxineiros, 24 copeiros e 27 garçons — daqueles que usam gravata borboleta e luvas brancas, e mais de 80 secretárias, quase 300 seguranças e 12 auxiliares de desenvolvimento infantil para os filhos dos servidores”.

“São mais de 800 terceirizados dando expediente na mais alta Corte do país, composta pelos ministros e ainda 2 mil servidores requisitados e concursados”.

Como seres divinos enrolados em suas capas negras, aparecem apenas os 11 nas transmissões da TV Justiça, mas cada Ministro, repito, cada Ministro possui de 20 a 30 funcionários para fazer e auxiliar o trabalho para o qual foram nomeados.

Em 23/09/2021, o jornalista Lúcio Vaz – Gazeta do Povo, publicava:

“O Supremo Tribunal Federal vive um mundo paralelo, com milhões de reais investidos em segurança armada, carros blindados, sala vip no aeroporto e jantares nababescos, com direito a bacalhau, lagosta, camarão, vinhos e espumantes com pelo menos quatro premiações internacionais, servidos em taças de cristal, e café à francesa. As mordomias estão registradas nos contratos do STF nos últimos três anos. No mundo real, milhões de brasileiros convivem com a violência e a fome, nas favelas, nos sertões”.

O jornalista Bernardo Bittar, da revista Poder, escreveu em 11/04/2020:

“Quem aceita um cafezinho nos gabinetes de qualquer um dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sai encantado com a gentileza dos garçons e com a ótima qualidade da bebida, servida em xícaras de porcelana personalizadas com a balança da Justiça”.

Sem ter xícaras personalizadas, segundo o IBGE, o Brasil possui 1.257 municípios brasileiros com menos de 5 mil habitantes e, pelos cálculos da CNM, 1.217 não são viáveis financeiramente. Essas prefeituras gastaram, em 2018, R$ 4,5 milhões com a estrutura administrativa, mas geraram apenas R$ 3 milhões de receitas.

Em 2019 os 11 Ministros tiveram um orçamento de R$ 741,4 milhões!

Em 2021 os 11 Ministros gastaram R$ 712,46 milhões!

Mas, 1217 cidades, 2% da população brasileira (4.234.044 habitantes) sobrevivem, cada uma, com um orçamento de R$ 4,5 milhões por ano!

Segundo a Revista Veja o orçamento do STF para 2022 será de R$ 767 milhões de reais, 56,6 milhões a mais do que o de 2021.

O Senador Jorge Cajuru já usou a tribuna do Senado para afirmar:

“Os números assustam: além dos benefícios com moradia e alimentação, que despendem um recurso público muito acima da média brasileira, os ministros ainda contam com auxílio-funeral e de natalidade, R$ 1,5 milhão para auxílio-moradia dos 11 ministros (uma média de R$ 11 mil por mês a cada um). Agregado a isso, somam-se R$ 12 milhões com auxílio-alimentação, cerca de R$ 90 mil por mês”.

O site Mises publicou “Quem vigia o STF? ”, onde afirma:

“Segundo muitos juristas, o Supremo Tribunal Federal está há mais de seis meses descumprindo a lei e a própria Constituição Federal no caso do inquérito sobre fake news. Sem ouvir o Ministério Público, tem:

a) censurado a imprensa, caso de “O Antagonista” e da “Crusoé”, que noticiaram a ligação entre o presidente do STF e a Odebrecht (o “amigo do amigo do meu pai”);

b) ordenado apreensões de computadores e proibições de uso de redes sociais ao redor do país, inclusive contra um general da reserva;

c) demitido fiscais da Receita Federal que investigavam familiares de ministros do STF;

d) ordenado busca e apreensão no escritório de advocacia do ex-procurador-geral Rodrigo Janot com base em um “não-crime ocorrido vários anos antes”;

e) investigado em sigilo um “número desconhecido de cidadãos”.

Para o ex-ministro do STF Ayres Britto, “o Judiciário não pode ser nascente, corrente e foz de um mesmo rio, ou seja, não pode simultaneamente investigar, acusar e julgar, atos que, segundo qualquer ordenamento sério, são competência de órgãos distintos”.

Luís XIV, Luís XV, Luís XVI e o absolutismo viraram poeira. Mas “Versalhes” sobreviveu como museu, como símbolo da corrupção.

Os Municípios brasileiros, alienados da realidade, esperam pacientemente que alguém os tire da situação de penúria a que estão submetidos.

O STF é a Versalhes brasileira habitada por homens-deuses que abrem a boca e, cinicamente, falam ao povo brasileiro de justiça, de fome, de bondade, de fake news, enquanto se esbaldam na riqueza.

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