Mal a notícia virou fato consumado e já pipocaram inúmeras análises – a maioria com os pés fincados em Plutão. Se o presidente Bolsonaro fez ou não a coisa certa ao escolher o PL como seu próximo partido, é uma dúvida para elucidar com os resultados futuros, em especial os da eleição do próximo ano. Ainda assim, cabe alguns esclarecimentos importantes sobre tal movimento político.
Vi muitas críticas ao PL pelo fato de Valdemar Costa Neto ser o seu presidente. Lembraram da sua condenação no Mensalão, das suas alianças com os governos petistas e do fisiologismo como marca registrada do seu partido. Nada disso é elogiável; ao contrário, merece repúdio. Minha opinião sobre o Centrão continua a mesma desde que comecei no jornalismo, e não será o presente fato suficiente para mudá-la.
Porém, cabe uma pergunta: Bolsonaro poderia escolher outro partido com um currículo melhor? Creio eu que não. Ele tentou criar a sua própria legenda, o malogrado Aliança pelo Brasil. A partir do momento que ficou claro ao presidente a impossibilidade de fundar uma nova agremiação, restou como alternativa aderir a uma já existente. E das opções que o nosso sistema eleitoral oferece, não há algo muito diferente do PL. Partido político no Brasil é um verdadeiro balcão de negócios, sem qualquer predominância de ideais – com exceção dos já tomados pelas esquerdas.
Vivemos em uma República pluripartidária, com uma legislação eleitoral a proibir candidaturas avulsas. Se nos tempos de Império o bipartidarismo não era suficiente para dar coloração ideológica total aos partidos da época – casos como o Visconde de Ouro Preto, tido como um ‘’liberal saquarema’’, eram mais comuns do que se pensa –, imaginem então na Nova República. A culpa do sistema ser dominado pelo fisiologismo repugnante não é de Bolsonaro, tampouco do seu clã político. Pela minha vontade, o presidente teria uma legenda para chamar de sua. Mas, ao contrário dos chiliquentos, tenho ciência de que o mundo não gira em torno do meu umbigo.
Se os defeitos apontados nessa escolha procedem, como justificar a escolha do presidente Bolsonaro pelo PL? Por que não continuar no PSL? Por que não regressar ao PP? Bem, nesses partidos, Bolsonaro não teria o que será fundamental para a sobrevivência política do seu projeto: autonomia na escolha dos candidatos. Mesmo com diretórios estaduais acordados com partidos e governos de esquerda – no caso do meu estado, o PL faz parte da base aliada do governador Wellington Dias (PT-PI) – para as próximas eleições, a tendência é uma mudança nesse quadro, ainda que não total.
Com autonomia para escolher os candidatos do partido, Bolsonaro terá chance de ter mais governadores aliados, além de eleger parlamentares fiéis ao seu governo. O Senado é importantíssimo. Todos nós sabemos das peripécias protagonizadas pelo STF, das atribuições constitucionais delegadas ao chefe do Poder Executivo sendo sequestradas pela corte, além dos inquéritos ilegais promovendo censura e perseguição aos conservadores que o apoiam. Pela letra da lei, cabe ao Senado frear tais ações, como no caso de um processo de impeachment de ministros do Supremo. Eleger senadores alinhados ao governo seria vital para o presidente conseguir estancar a suprema sangria.
Além disso, a eleição de 2022 será muito diferente da última. É praticamente improvável uma repetição do cenário visto em 2018, quando o então candidato Jair Bolsonaro venceu a disputa presidencial sem um partido grande, tempo de televisão e dinheiro do fundo eleitoral. A direita conseguiu vitórias importantes e consagrou nas urnas uma renovação de ideias começada há muito tempo. O lavajatismo também logrou êxito com o derretimento de partidos tradicionais – MDB e PSDB tiveram suas bancadas reduzidas quase pela metade.
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